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Minha experiência - sozinha - pela Índia

  • yamyogabr
  • 27 de jul. de 2023
  • 6 min de leitura

Atualizado: 30 de ago. de 2023


Quando comento que fui sozinha para a Índia e fiz umas das minhas formações em yoga por lá, muita gente fica curiosa para saber mais sobre a viagem: É tranquilo ir sozinha? Você ficou quanto tempo? Viajou pelo país? O que comeu? Ficou num ashram? Como escolheu onde estudar? Você gostou? Voltaria? E muitas e muitas outras questões... Por isso, decidi compartilhar um pouquinho da minha experiência.


O que esperar ao desembarcar em Nova Delhi?

Bom, primeiro, eu diria: vá com o coração e a mente abertos para viver o que eles têm a oferecer. Deixe os julgamentos e preconceitos por aqui antes mesmo de entrar no avião. É um país onde a cultura, os hábitos, os valores, a comida...tudo é muito diferente!


Eu cheguei por Delhi e fiquei na Índia cerca de 45 dias, divididos entre estudo e turismo (fiz mais o norte do país).


Se você é mulher...

Apesar de gostar de me jogar no mundo e desvendar os lugares com a cara e coragem, acho importante pesquisar, conversar com quem já esteve na Índia e buscar informações para evitar perrengues, especialmente se você está indo para lá sozinha, como eu fiz.


Enquanto estava organizando a viagem, ouvi muita coisa: evite grandes aglomerações (principalmente quando elas incluem muitos homens), não saia na rua à noite, não pegue táxi ou tuk-tuks desacompanhada de um homem; cuidado com as roupas que vai usar, cubra o corpo, use lenços na cabeça, não viaje de trem... e histórias que me deixavam bastante receosa. Muita coisa que até te aterroriza.


Por isso, para me sentir mais segura, fui em busca de alguém que pudesse me receber e me ajudar ao menos nos primeiros dias. Durante minhas pesquisas encontrei o @vemcomigoparaindia e fechei com eles um roteiro. Um grupo pequeno, só de mulheres - e suas mochilas!


Assim, fui recebida no aeroporto pela Lari (@larifil), uma querida, que desde o primeiro contato me ajudou muitoooo! Creio que foi uma das melhores escolhas que eu fiz e recomendo. Passei pouco mais de 10 dias com elas. Rodamos pelas ruas de Delhi, Amritsar, McLeod Ganj, Agra, Rishikesh. Viajamos de van, trem durante o dia, trem noturno, avião... rodamos em muitos tuk-tuks.


Experimentei os mais variados pratos e iguarias indianas (e sim, tive piriri, mesmo tomando todos os cuidados recomendados), pechinchei nas comprinhas, fugi de macacos, vacas e outros bichos que passeiam livremente por lá. Conheci diversos templos, fui ao Taj Mahal, fiz aula de yoga, massagem e meditação, mergulhei no Ganges e até passei uma noite acampada em meio a um trekking no Himalaia (que foi uma experiência à parte, aliás!). Assim, entendi melhor como as coisas funcionavam e me senti confortável em seguir sozinha.


Com a Lari escolhi meus próximos destinos. Peguei muitas dicas e contatos. Onde comer, o que visitar, onde me hospedar e como me locomover. Que cuidados deveria ter dali em diante. Viajei sozinha de trem (inclusive à noite) e fiz, por exemplo, um trajeto longo de carro. Por algumas horas numa estrada sem ninguém – só eu e o motorista. Precisava, portanto, de alguém de confiança. Assim, parti sentido ao Rajastão (fui para Jodhpur e Udaipur) para então seguir até Khajuraho... onde fiquei mais quatro semanas para estudar.


Aquela ida com emoção!

Quasseeeeee perdi o voo para Khajuraho. Por uma visita política em Delhi, fecharam praticamente todas as ruas que chegavam ao aeroporto. Não conseguia uber, táxi ou alguém para me levar. Com a ajuda do pessoal do lugar que estava hospedada, achei um cara com uma van caindo aos pedaços que resolveu se habilitar a tal função cobrando um pouco mais do que eu gastaria normalmente.


Com toda calma do mundo e repetindo que daria tempo, ele foi magicamente passando em meio a qualquer espacinho possível no trânsito (claro, sem largar a mão da buzina, como é de costume!) e chegamos ao aeroporto com meu voo partindo em 40 minutos.


Sai gritando pela fila de entrada do aeroporto (sim, tem fila sempre porque só entra quem realmente vai viajar, ou seja, é preciso mostrar todos os documentos e comprovar a viagem), passei na frente de todo mundo que estava no check in (fila na Índia não é muito respeitada, sempre alguém passa na sua frente rs) e depois de ouvir do atendente da companhia aérea um “corra!”, foi só o que eu fiz. Detalhe, larguei minha mochila com ele, no meio do aeroporto, sem ter certeza que seria despachada.


O curso de formação e as semanas no ashram

Tentei fugir das grandes cidades e dos locais mais turísticos quando escolhi o curso. Pesquisei na internet, conversei por mensagens e redes sociais com algumas pessoas que descobri terem estudado lá. Tive boas recomendações. Cabia no meu orçamento e parecia ter um cronograma legal. Decidi que estudariam no @arhanta.yoga.


Optei por ficar durante o curso em um quarto individual. Já que eram 4 semanas, achei que valia pagar um pouquinho mais e ter privacidade. Agora era hora de estudar, então queria ter meu espaço.


O ashram fica num vilarejo, a alguns quilômetros da cidade de Khajuraho. É rodeado de verde, basicamente no meio do nada. Minha primeira semana por lá foi beeemm difícil. Cheguei ainda no clima das viagens anteriores, turista, animada... e sabe aquela sensação de estar fora da zona de conforto? Multiplica por 15! (rs). Me perguntava todo dia: o que eu vim fazer aqui!?


A rotina lá era: acordávamos bem cedinho para meditar, escuro ainda. Depois tinha o café da manhã (refeições sempre em silêncio total) e seguíamos o dia de estudo. Aulas teóricas e práticas de manhã e a tarde. Pausas para almoço, por volta de 11h30, e jantar, lá pelas às 17h. Depois disso só um chá. No meio da programação, cada um era responsável por cuidar, além do seu quarto e roupas, da limpeza e organização dos espaços compartilhados.


Minha cabeça nos primeiros dias:

- “Vou ter uma boa noite de sono e acordo melhor” - a cama era dura, estreita, coberta por um mosquiteiro e o travesseiro parecia mais uma fronha vazia. À noite apagavam todas as luzes e você só ouvia os bichos que pastavam ou estavam ao redor.


- “Ah! Então pelo menos vou comer bem, uma coisinha gostosa me trará conforto”- o café da manhã (minha refeição preferida) era chá, banana e mingau quase todo dia. O horário das refeições, completamente diferente do que eu estava acostumada. Não tinha como repetir quase nada, mesmo que estivesse uma delícia (e eu adoro comer!). Nada de café preto, cervejinha ou vinho para relaxar. Aquela comida preferida ficava só nos sonhos. Doce - exceto fruta – era bem raro ter.


“Um banho quentinho então!?” – A água do chuveiro era gelada. Para ter um pouco de água quente, tinha que encher um balde numa torneira com aquecedor do lado de fora e carregar até o quarto. Só dava para levar um, ou seja, para uma lavadinha rápida e básica. Papel higiênico, só comprando e não estava disponível a todo momento.


Somado a isso: a internet era bem limitada, não tinha meus amigos ou a família para papear e basicamente só falava inglês (tá, eu entendo e me viro, mas estudar filosofia, asanas (posturas), corpo humano e demais temas do yoga em inglês não é tão simples para mim).


Tinha ainda uma pressão para darmos uma aula (ou uma sequência) todo dia, como um teste... O dia de folga era só aos domingos. Nos outros dias, não era permitido sair, a menos que você tivesse um bom motivo e autorização.


Meu cérebro deu um nó! Chorei diversas vezes. Quis desistir.


O que eu trouxe pra casa

Aos poucos, a comida foi ganhando novos sabores (elegi até meus pratos preferidos). O silêncio durante as refeições me faziam bem. O banho frio passou a ser revigorante. O cansaço dos estudos tornava a cama cada dia mais deliciosa. Gostava de acordar para meditar e da rotina das práticas. Via meus avanços como professora. O quarto foi ficando com a minha cara. Já considerava ali um espaço seguro. Minha cabeça acalmou e não reclamava das mudanças.


Fiz boas amizades e me senti acolhida. Me diverti deitada na grama inúmeras vezes, nas caminhadas aos sábados para ver o sol nascer, nas celebrações, nos passeios das folgas de domingo e até nos estudos que combinávamos em grupo.


Lembro que no meu discurso ao receber o diploma, não consegui dizer uma palavra. Só chorei. Chorei por estar orgulhosa de mim, por ter chegado até ali, por ter conseguido, pela coragem, disposição e vontade. Pela resiliência. Pela paciência. Por ter mudado a minha vida e me dado a oportunidade de começar de novo. Chorei de felicidade e também de tristeza. Por tudo aquilo estar chegando ao fim.


Me despedi da Índia com longos abraços apertados. Foram muitas experiências. Histórias que dariam mais diversos parágrafos por aqui. Conheci muitas pessoas legais, afetuosas e inspiradoras que cruzaram meu caminho e me ajudaram de alguma maneira.


Como a Lari, antes mesmo de eu embarcar, havia me dito durante os preparativos da viagem: ninguém volta igual de uma viagem para Índia. Nos deparamos com problemas, há momentos difíceis, mas também muitos aprendizados, oportunidades de transformação e novas visões de mundo para trazer na bagagem. Se eu voltaria para lá? Sem nenhuma dúvida, sim!


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